quinta-feira, 3 de agosto de 2017

O valioso tempo dos maduros


Mario de Andrade
1893 - 1945
 
Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente, do que já vivi até agora.
 
Tenho muito mais passado do que futuro.
 
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.
 
As primeiras ele chupou displicente, mas percebendo que faltavam poucas, roeu até o caroço.
 
Já não tenho tempo para mediocridades.
 
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
 
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
 
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
 
Já não tenho tempo para administrar melindres das pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturas.
 
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral.
 
As pessoas não debatem conteúdos, apenas rótulos.
 
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos .... quero a essência .... minha alma tem pressa....
 
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, que não se encanta com os triunfos, que não se considera eleita antes da hora, que não foge de sua mortalidade.
 
Quero caminhar perto de coisas e pessoas de verdade !!
 
O essencial faz a vida valer a pena.
 
E para mim, basta o essencial !!

Nenhum comentário:

Postar um comentário