quinta-feira, 8 de junho de 2017

Sois Maçom??


Enviado em 08/06/2017, pelo
Ir.’. Carlos Eduardo Lopes de Abreu
A.’.R.’.L.’.S.’. “”Frater Domus de Riacho Grande” nº 458
Or.'. de Santo André - SP
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Só me lembrava daquela forte dor no peito. Como viera eu parar ali? O ambiente era familiar. Já estivera ali, mas... quando? 

Caminhava sem rumo. Pessoas desconhecidas passavam por mim, contudo, não tinha coragem de abordá-las.

Mas... espere, que grupo seria aquele reunido e de terno preto? 

Lógico! Não estariam indo ou vindo de um enterro; hoje em dia não é tão comum, pessoas irem a um velório com roupa preta. 

É claro! São IIr.’.! Aproximei-me do grupo. Ao me verem chegar interromperam a conversa. 

Discretamente executei o sinal de Aprendiz, obtendo resposta. A alegria tomou conta de mim. Estava entre amigos. 

Identifiquei-me. Perguntei ansioso o que estava acontecendo comigo. Responderam-me com muito cuidado e fraternalmente. 

Havia desencarnado. Fiquei assustado; e a minha família, os meus amigos, como estavam? 

Estão bem, não se preocupe; no devido tempo você os verá, responderam. 

Ainda assustado, indaguei do motivo de suas vestes. Estamos nos encaminhando ao nosso Templo Maçônico, foi a resposta. 

Templo Maçônico? Vocês tem um? Sim, claro. Por que não? 

Senti-me mais a vontade, afinal sou um Grande Inspetor Geral e com certeza receberei as honras devidas a meu Grau. Pedi para acompanhá-los, no que fui atendido. 

Ao fim da pequena caminhada divisei o Templo. Confesso que fiquei abismado. Sua imponência era enorme. As colunas do pórtico eram majestosas. Nunca vira nada igual. Imaginei como deveria ser seu interior e como me sentiria tomando parte nos trabalhos. Caminhamos em silêncio. 

Ao chegar ao salão de entrada verifiquei grupos de Irmãos conversando animadamente, porém em tom respeitoso. 

O que parecia ser o líder do grupo e que me acompanhava chamou um Irmão que estava adiante: 

- Ir.'. Exp.'.! Acompanhai o Ir.'. recém-chegado e com ele aguarde. 

Não entendi bem. Afinal, tendo mostrado meus documentos, esperava, no mínimo, uma recepção mais calorosa. 

Talvez estejam preparando uma surpresa à minha entrada; para um Grau 33 não poderia se esperar nada diferente. Verifiquei que os Irmãos formavam o cortejo para entrada no Templo. 

A distância, não pude ouvir o que diziam, contudo, uma luminosidade esplendorosa cercou a todos. 

Adentraram silenciosamente no Templo. 

Comigo ficou o Ir.'. Exp.'. De tanta emoção não conseguia dizer nada. O tempo passou... Não pude medir quanto. 

De repente, a porta do Templo se entreabriu o Ir.'. M.'. de CCer.'., encaminhando- se a mim, comunicou que seria recebido. Ajeitei o paletó, estufei o peito, verifiquei se minhas comendas não estavam desleixadas e caminhei com ele. 

Respirei fundo e adentrei ritualisticamente ao Templo. Estranho... Esperava encontrar luxuosidade, muito ouro e riqueza. 

Verifiquei, rapidamente, no entanto, uma simplicidade muito grande. 

Uma luz brilhante, vindo não sei de onde iluminava o ambiente. Cumprimentei o Venerável Mestre e os Vigilantes na forma usual. 

Ninguém se levantou à minha entrada. Mantinham-se calados e respeitosos. 

Não sabia o que fazer... Aguardava ordens... e elas vieram na voz firme do V.’.M.’.: 

Reconhecendo a necessidade do telhamento em tais circunstâncias, aceitei respondê-lo. Estufei o peito, impetiquei o corpo e respondi: 

Aguardei seguro, a pergunta seguinte. 

Em seu lugar o V.’. M.’., dirigindo-se aos presentes, perguntou: 

- Os IIr.’. aqui presentes o reconhecem como Maçom? 

Assustei-me. O que era isso? Por que tal pergunta? O silencio foi total.

Dirigindo-se a mim, o Venerável emendou: 

- Meu caro Ir.’. Vis.’., os IIr.’. aqui presentes não o reconhecem como Maçom. 

- Como não?! Disse eu. Não vêem minhas insígnias? Não verificaram meus documentos? 

- Sim, caro Ir.’. - retrucou solenemente o Venerável. 

- Contudo não basta ter ingressado na Ord.’., ter diplomas ou insígnias para ser um Maçom. É preciso antes de tudo, ter construído o "seu Templo", e verificamos que tal não ocorreu com o Ir.'. 

- Observamos, ainda, que apesar de ter tido todas as oportunidades de estudo e de ter galgado ao maior dos Graus, não absorveu seus ensinamentos. Sua passagem pela Arte Real foi efêmera. Não pude agüentar mais. Retruquei: 

- Como efêmera? Vocês que tudo sabem não observaram minhas atitudes fraternas? 

Fui interrompido. 

- IIr.’., vejamos então sua defesa. 

Automaticamente, desenhou-se na parede algo parecido com uma tela de televisão e na imagem reconheci-me junto a um grupo de IIr.’., tecendo comentários desairosos contra a administração de minha Loj.’.  

Era verdade. Envergonhei- me. 

Tentei justificar mas não encontrava argumentos. Lembrei-me, então, de minhas ações beneficentes. 

Indaguei-os sobre tal. E mudando a imagem como se trocassem de canal, vi-me colocando a mão vazia no Tronco de Beneficência. Era fato e, costumeiramente, o fazia, por achar que o óbulo não seria bem usado... 

Por não ter o que argumentar, calei-me e lágrimas de remorso brotaram-me nos olhos. Iniciei a retirar-me cabisbaixo e estanquei ao ouvir a voz autoritária e ao mesmo tempo fraterna do Venerável. 

- Meu Ir.’. Reconhecemos suas falhas quando no orbe Terrestre e na Maçonaria, contudo, reconhecemos, também que o Ir.'. foi iniciado em nossos Augustos Mistérios.

- Prometemos em suas Iniciações protegê-lo e o faremos. O Ir.'. terá a oportunidade de consertar seus erros, afinal, todos nós aqui presentes, já os cometemos algum dia. 

- Descanse nesse plano o tempo necessário e, ao voltar à matéria para novas experiências, nós o encaminharemos novamente a Ordem Maçônica. Sua nova caminhada, com certeza, será mais promissora e útil. 

Saí decepcionado mas estranhamente aliviado. Aquelas palavras pareciam ter me tirado um grande peso. 

Com certeza, ali eu desbastara um pedaço de minha P.’.B.’.... 

De repente... 

Acordei, sobressaltado e suando muito. Meu coração estava disparado. 

Levantei-me assustado, mas com certa alegria no peito. 

Havia sonhado! 

Dirigi-me ao guarda-roupa, meu terno ali estava. Instintivamente, retirei do paletó as medalhas e insígnias e as guardei em uma caixa. 

Ainda emocionado e com os olhos molhados de lágrimas, dirigi-me à minha mesa e com as mãos trêmulas e cheio de uma alegria enlevante, retirei da gaveta o Ritual de Aprendiz Maçom e comecei a estudá-lo novamente com mais carinho.

Um comentário:

  1. Um tema para reflexão de UMA GRANDE MAIORIA DE IRMÃOS, que acreditam ter chegado ao Topo da Escada de Jacó e não retornam para auxiliar os que ainda estão a caminho. Parabéns. Permissão para divulgar, citando sua autoria.

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