quinta-feira, 16 de junho de 2016

A Moral e o Anel de Giges



Publicado no Grupo Só IIr.’. 100 – Whats App, pelo
 Ir.’.Valter Mendes, em 14/06/2016
 


Nestes tempos de moral social degenerada, vale relembrar o filósofo Platão em sua obra "A República", quando ele narra a lenda do pastor Giges.

Certo dia, após uma tempestade, abre-se uma fenda no chão, e o rebanho do pastor é engolido.

Ele resolve entrar na fenda e encontra, no fundo do abismo, o cadáver de um gigante, que trazia apenas um anel em um dedo.

Giges coloca o anel e segue para a Assembleia de Pastores, destinada a preparar relatório para o rei sobre a situação do rebanho.

O pastor, então, percebe que, ao girar o anel para baixo, ele se torna uma pessoa invisível.

Virando o anel para cima, ele volta a ficar visível. Eufórico com a descoberta, Giges vai ao palácio e, estando lá, gira o anel e fica invisível.

Agora, longe de qualquer punição, Giges seduz a rainha, assassina o rei e usurpa o trono, iniciando sua longa dinastia.

Platão nos conta que, ao desfrutar da invisibilidade e movido pelo desejo de poder, o pastor passa a agir sem escrúpulos, seduz, rouba e mata.

E o filósofo nos propõe a seguinte questão: os homens são bons por escolha própria ou simplesmente porque temem ser descobertos e punidos?

Imagine, caro leitor, que você tenha o anel de Giges e possa ficar invisível. Livre para fazer o que quiser sem ser punido pela sociedade, pelas leis e por Deus, você agiria com base na Moral e na Justiça ??

Platão disse: “Quer conhecer o homem, dê-lhe o poder”.

O ser humano só é completamente moral quando, tendo o poder e estando livre da punição, ele age com base na moral, na virtude e na justiça.

A observação da conduta cotidiana nos leva a concluir que, se o ser humano ficar entregue a seus próprios instintos naturais, muito provavelmente o egoísmo, a ganância e a sede de ter mais – poder, fama e dinheiro – o levariam a roubar, matar e trapacear.

A narrativa de Platão permite concluir que mesmo uma pessoa virtuosa e justa, se tivesse em mãos o anel de Giges, agiria contrariamente à virtude e à justiça.

Não todos, é claro.

E, Aristóteles alerta que “o homem guiado pela ética é o melhor dos animais. Quando sem ela, é o pior”.

Por isso, a vida em sociedade exige um conjunto de normas gerais de conduta justa, iguais para todos (inclusive para o rei) e aplicáveis a um número incerto de casos futuros.

A propensão humana à virtude é frágil; por isso, a paz social não dispensa as regras de conduta e a punição para quem as viola.

Na esfera pública, o meio de impedir que os políticos tenham seu anel de Giges é pela visibilidade de seus atos.

Não é por outra razão que a Constituição obriga à publicidade de todos os atos dos governantes.

A publicação e a divulgação de tudo quanto é feito com o dinheiro público (e também dos atos que não envolvam dinheiro) são necessárias para o conhecimento da população sobre as ações dos homens do poder.
Certamente, os corruptos imaginam ter achado o anel de Giges e acreditam que não serão pegos nem atingidos pela punição.

Somente um louco cometeria atos de corrupção se tivesse a certeza de que seria descoberto, processado e punido. Seguramente, os malfeitores fazem cálculos e agem apostando na probabilidade de não serem pegos. De vez em quando, eles erram no cálculo e a justiça funciona.


Se os homens fossem anjos, o Código Penal e as prisões não seriam necessários. Mas os homens não são anjos e, quanto mais poder eles têm, maior a probabilidade de manifestarem seu lado diabólico e imoral.


José Pio Martins
Economista e reitor da Universidade Positivo.

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