Enviado ao Grupo de Whats App "Só IIr.'. 100", pelo
Ir.'. Wagner Buzzo
Or.'. de São João da Boa Vista - SP.
Quem se preocupa com o bem estar da Maçonaria e o progresso de nossas instituições já deve ter percebido que uma parte dos que pedem iniciação nas Lojas o fazem por motivos opostos aos padrões de nossa Ordem.
Haja visto a quantidade de
obreiros que abandona as Lojas entre o Primeiro e o Segundo Graus.
Essas estatísticas,
ninguém tem ânimo de revelar, mesmo para uma pesquisa interna fundamentada em
causas e motivos. "Pato ou lebre?" e assim uma ilusão de ótica que
possa entreter os sentidos, torna-se insustentável - principalmente para
pedreiros (maçons) que têm o olhar refinado pelo duplo parâmetro do Esquadro e
do Compasso.
Quando abordo assuntos
como este, alguns se preparam para "vestir carapuças", mas a atitude
correta seria a de submeterem à discussão e à pesquisa séria o controverso, ao
invés de desprezarem temas que nos afligem e consomem parte das nossas energias.
O problema não para por
aí. Dos que permanecem nas Lojas, muitos insistem em lutar por uma fatia
daquilo que erradamente consideram ser nossa Ordem - uma organização que
distribui benesses ou vantagens que não derivam de esforço ou trabalho.
Não me canso de falar
sobre os reais objetivos da Maçonaria: em primeiro lugar, propiciar uma Iniciação
com "i" maiúsculo, capaz de proporcionar àqueles que foram
introduzidos no simbolismo, as condições de conhecerem a si mesmos.
Só depois de Conhecer a Si
Mesmo o iniciado estará apto a prosseguir nos segredos revelados pelo Grau de
Mestre ou prosseguirem além do III. Do contrário, a Exaltação será apenas uma
representação seguida de ágape, sem que os princípios metafísicos atinjam o
discípulo despreparado que agora se julga "mestre".
Pergunto: o que é
"conhecer a si mesmo"...? e quantos têm realizado essa
"alquimia"?
O que é levantar Templos à
Virtude? Façamos um exame de consciência; meçamos a profundidade das masmorras
onde deveríamos sepultar os vícios:
˗ O vício é uma
"doença do endurecimento mental e espiritual; uma doença da rivalidade e
da vanglória; da vida dupla, fruto da hipocrisia típica das mediocridades; do
vazio espiritual, das bisbilhotices, das murmurações e dos mexericos; doença da
indiferença para com os outros; vício dos círculos fechados; doença do proveito
mundano" ˗ este texto em negrito e entre aspas pertence ao discurso
proferido às vésperas do Natal de 2014, pelo Papa Francisco à Cúria Romana
(cardeais, bispos e monsenhores, que formam a estrutura da Igreja).
Imagino que o alto clero esteve
ali reunido para saborear as pompas de fim de ano e foram surpreendidos com
esse puxão de orelhas: o Papa classificando como doenças os desvios que
arrastam a Igreja (e as mais sublimes instituições) para o abismo do
materialismo.
Voltando às Lojas entre
nós, os Graus de Aprendiz e Companheiro são feitos às pressas, no único intuito
de exaltarem "a toque de caixa" um novo Mestre para compor os
minguados quadros da Oficina.
As instruções são lidas de
qualquer jeito e os trabalhos para aumento de salário, com raríssimas exceções,
são reproduções dos rituais, plágios de livros, cópias malfeitas da internet e
arremedo do que se diz nos clubes dos ungidos falsos instrutores.
Entretanto, se faltam
Mestres ou Obreiros nas colunas, um dos motivo deve ser procurado nos processos
eleitorais maçônicos que não suportam chapas de oposição nas Lojas, pelo receio
de o debate democrático e o contraditório esvaziarem as instituições e
provocarem cisões. Pelo contrário, quanto mais acirradas forem nossas
discussões, mais fortalecida sai a Maçonaria.
Não entendo como
pretendemos ser, construtores sociais se tememos as urnas e a alternância no
poder. A administração desses aborrecimentos depende também de uma legislação
mais rigorosa que não permita a criação de novas Lojas com número minguado de
Obreiros; depende de as Potências estimularem a fusão e/ou incorporação
daquelas Lojas que, por infelicidade, se encontrem momentaneamente
impossibilitadas de cumprirem suas obrigações.
Dito isso, estou preparado
para enfrentar caras amarradas e gente tola me virando as costas. Mal sabem que
não estou servindo a mim mesmo e sim à Ordem em cujos altares jurei fidelidade.
Precisamos enfrentar a
realidade e sairmos das zonas de conforto. Arregaçar as mangas e trabalhar.
É por causa dessas
maneiras equivocadas, como se tratam os processos administrativos e iniciáticos
(salvo honrosas exceções, repito), que a Maçonaria Brasileira ficou confinada à
contemplação do próprio umbigo, repetindo os mesmos equívocos do passado e
agindo como Narciso (personagem da mitologia grega que, encantado com a própria
beleza, deitou-se na margem de um lago e definhou-se contemplando seu reflexo,
até que, apaixonado por si mesmo, atirou-se na água e morreu afogado).
O QUE ACONTECEU NO PASSADO??
Um rápido olhar sobre o
desenvolvimento da Maçonaria brasileira revela os fatores externos e a ambição
dos "profanos de avental" que dessacralizaram nossos Templos com
discursos enviesados.
Na primeira na década de
1830, marcada pelas hostilidades dos políticos brasileiros contra os
portugueses, houve a impiedosa "queda de braço" entre Gonçalves Ledo
e José Bonifácio que, somadas às sucessivas trocas ministeriais, levaram o
Grão-Mestre, D. Pedro I, a afastar-se do Grande Oriente e abdicar do trono.
Os poderes maçônico e
imperial, caíram nas mãos de José Bonifácio que conduziu a Maçonaria Brasileira
a seu modo discricionário: os primeiros malhetes e o Poder Legislativo, seriam
propriedades da família Andrada (e, de fato, a família Andrada está no
Congresso há 190 anos "tendo produzido 15 deputados e senadores, quatro
presidentes da Câmara, oito ministros de Estado e dois ministros do STF, além
de governadores, prefeitos e vereadores. Ao todo, rendeu mais de 20 políticos e
ocupantes de altos cargos públicos", segundo o site www.congressoemfoco.uol.com.br.
Esse estado de coisas
permaneceu até a Proclamação da República ˗ segunda fase ˗ a partir de quando
os dois primeiros Presidentes ˗ de 1889 a 1894 ˗ foram maçons militares,
Deodoro e Floriano ˗ este último denominado "Marechal de Ferro" por
ter praticado uma "ditadura de salvação nacional", salvação essa que
colocou os melhores e mais esclarecidos maçons da época na periferia, com a
consequente guindagem de personalidades inexpressivas (exatamente como acontece
hoje, em alguns setores da Ordem e da República, quando os mais capazes são
hostilizados em tudo o que são capacitados para empreender).
Tanto Deodoro quanto
Floriano foram mais militares a serviço das elites, do que maçons a serviço do
povo brasileiro.
Os Irmãos José do
Patrocínio (jornalista e abolicionista) e Carlos Gomes, imortal compositor,
foram vítimas da retaliação maçônico-republicana. Patrocínio foi
"marcado" pelo "irmão" marechal que o deportou para Cucuí,
no alto Rio Negro. Para o longínquo norte também foi "despachado" o genial
Carlos Gomes por ter se recusando compor um hino para a República; apesar do
estrondoso sucesso alcançado na Europa com a ópera "Il Guarany",
Carlos Gomes teve suspensa sua nomeação para o Conservatório de Música do Rio
de Janeiro, sendo despedido para o Pará, sendo vigiado pelo governo de Lauro Sodré,
também maçom, etc. e tal.
Na terceira fase ˗ que vai
de Prudente de Morais (1894) até Washington Luís (1930) ˗ oito entre os onze
Presidentes da República foram os chamados "poderosos Irmãos", mais
preocupados em acumular a tríplice função de chefe do governo republicano,
Grão-Mestre do Simbolismo e Grande Comendador de algum Rito.
Ainda hoje, os desavisados
usam o tratamento "poderoso irmão" sem se darem conta da infeliz
conotação dessa expressão nascida do abuso de poder e ilegítima acumulação de
funções na nascente República do Catete (2).
Essa situação confusa e
incoerente terminou em 1930 quando Getúlio Vargas destituiu o Presidente maçom,
Washington Luís, e mandou que os ministros militares o prendessem no Forte de
Copacabana.
No mesmo período, Mário
Behring ˗ já distanciado do GOB ˗ vinha consolidando as Grandes Lojas (1927)
como Potências independentes desvinculadas de disputas políticas no âmbito da
República.
A quarta fase durou uma
geração inteira, aproximadamente 35 anos, arrastando-se penosamente até a
década de 60, época em que a Maçonaria Brasileira cuidou apenas de conflitos
internos, arengas e bate-bocas.
As Grandes Lojas e o
Grande Oriente não fizeram mais do que administrarem acusações, chiliques e
melindres entre homens com "barba na cara" (mais ou menos como ainda
hoje, em pleno Século XXI, quando vicejam as camélias, plantas da família das
Theaceae, cuja flor mimosa pode durar vários dias, desde que não se lhes toque
as graciosas corolas, pois quando tocadas, cobrem-se de manchas amarronzadas
que comprometem a livre expressão do pensamento).
Enfim: essas
suscetibilidades, a inveja e os afetados impediram que qualquer projeto
verdadeiramente maçônico fosse levado adiante.
A quinta fase coincide,
por conseguinte, com os anos de chumbo da ditadura militar (de 1964 até a
promulgação da Lei da Anistia em 1979). Diante da repressão, os valentões de
nossa Ordem emudeceram e dedicara-se às comemorações festivas; houve
pouquíssimas e pontuais reações.
Vivemos hoje a sexta fase
em solo brasileiro: 200 anos de Maçonaria inseridos em 127 de República nos
quais engatinha uma jovem democracia de 37 anos: a mais velha, que é a
Maçonaria, imobilizada geneticamente sobre os escombros de lutas fratricidas e
na disputa pelos primeiros cargos em todos os seus segmentos ˗ uma
"autofagia", no conceito dos historiadores Marco Morel e Françoise
Jean de Oliveira Souza.
A sociedade de hoje ˗ acostumada com a ideia de que nós maçons, somos os paladinos da Liberdade ˗ vem perguntando sobre o que temos feito de concreto, nos últimos 50 anos, pelas causas sociais e o desenvolvimento harmonioso da República Brasileira; vem questionar sobre projetos sólidos para o futuro... e temos que reconhecer nosso despreparo em orientar a geração atual e as próximas quanto ao protagonismo e direitos próprios dos cidadãos ˗ mesmo porque não é papel da Maçonaria fazer lobby, seja ao tentarem alguns setores exercer influência direta nos poderes da República.
Não temos projeto algum,
apenas ações pífias e de consenso, levadas adiante penosamente pelos grandes
idealistas.
Só quando levantarmos os
olhos dos próprios umbigos e tivermos coragem de dizer NÃO aos "donos da
Maçonaria" e ao “mesmismo” é que ficaremos conscientes das areias
movediças nas quais fomos abandonados.
a) O senso de pertencimento como se fossemos "paladinos de alguma
coisa". Infelizmente só alguns
se destacam por utilizarem os "canais iniciáticos" da Maçonaria como
mecanismos de atribuição pessoal, "validando" uma proeminência que,
de outra forma, não conseguiriam. São atitudes, espalhafatosas e extravagantes,
mórbidas e risíveis demonstrações da superestima de suas potencialidades. Só
não as percebem os que, destituídos de ponderação, cometem tamanha imprudência.
b) A falta do diálogo interno, pela superabundância de instâncias mal
copiadas do mundo profano, e o descuido com o que de mais sagrado é assegurado
ao postulante no Grau de Aprendiz: a garantia da busca constante da verdade sem
obstáculos institucionais ou censuras, mediante o constante exercício da
tolerância e defesa da liberdade de pensamento.
c) O crescente predomínio dos meios da comunicação eletrônica e a velocidade das informações diminuiu nossa capacidade de concentração e estudo. De todas as classes sociais acorre uma geração informatizada antes de ser completamente educada ou instruída, especialistas em manipular celulares ligados durante as Sessões. Somos muitos grupos em Whats App e poucos interessados no profícuo convívio da Instrução, a exemplo do que realizam as Escola Maçônicas e as Lojas de Estudo e de Pesquisas, também levadas adiante por idealistas que não se curvam no altar da subserviência.
A própria Maçonaria nos aconselha o melhor antídoto para a cura desses males ˗ O VOTO (secreto e universal), livre e corajoso. Esta é a "arma" pacífica contra o continuísmo para que, no futuro, haja avaliações de desempenho e valorização do mérito (que é princípio universal maçônico). Por que não? Não é dessa forma que funcionam as instituições democráticas e as normas constitucionais republicanas?
Somos todos responsáveis pelos Irmãos que, desavisados, frequentam as Lojas 'como terapia de alívio da sobrecarga existencial, encarando a Maçonaria como o refúgio para a prática inconsciente do drama de suas angústias pessoais a ponto de se transformarem em "autômatos freudianos", praticando a solidariedade apenas pela necessidade de estarem juntos, sem a consciência de saber o porquê e a finalidade de estarem juntos' (conforme o alerta de Rosemiro Pereira Leal em seu livro "Morfologia do Rito Maçônico", p. 150; citado no meu livro "Grande Loja Maçônica de Minas Gerais-História, Fundamentos e Formação", p. 29).
Ilusões de ótica não se sustentam!!!
"Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos por todo tempo". Dizem que esta frase é de Abraham Lincoln; mas, se não for de Lincoln, fica sendo !!
Uma radiografia de nossa história e condição atual. Vale a pena lerem até o fim.
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