Publicado
no Grupo Só IIr.’. 100 – Whats App, pelo
Ir.’.Valter
Mendes, em 14/06/2016
Nestes
tempos de moral social degenerada, vale relembrar o filósofo Platão em sua
obra "A República", quando ele narra a lenda do pastor Giges.
Certo dia, após uma tempestade,
abre-se uma fenda no chão, e o rebanho do pastor é engolido.
Ele resolve entrar na fenda e
encontra, no fundo do abismo, o cadáver de um gigante, que trazia apenas um
anel em um dedo.
Giges
coloca o anel e segue para a Assembleia de Pastores, destinada a preparar
relatório para o rei sobre a situação do rebanho.
O
pastor, então, percebe que, ao girar o anel para baixo, ele se torna uma pessoa
invisível.
Virando
o anel para cima, ele volta a ficar visível. Eufórico com a descoberta, Giges
vai ao palácio e, estando lá, gira o anel e fica invisível.
Agora,
longe de qualquer punição, Giges seduz a rainha, assassina o rei e usurpa o
trono, iniciando sua longa dinastia.
Platão
nos conta que, ao desfrutar da invisibilidade e movido pelo desejo de poder, o
pastor passa a agir sem escrúpulos, seduz, rouba e mata.
E o
filósofo nos propõe a seguinte questão: os homens são bons por escolha própria
ou simplesmente porque temem ser descobertos e punidos?
Imagine,
caro leitor, que você tenha o anel de Giges e possa ficar invisível. Livre para
fazer o que quiser sem ser punido pela sociedade, pelas leis e por Deus, você
agiria com base na Moral e na Justiça ??
Platão
disse: “Quer conhecer o homem, dê-lhe o poder”.
O ser
humano só é completamente moral quando, tendo o poder e estando livre da
punição, ele age com base na moral, na virtude e na justiça.
A
observação da conduta cotidiana nos leva a concluir que, se o ser humano ficar
entregue a seus próprios instintos naturais, muito provavelmente o egoísmo, a
ganância e a sede de ter mais – poder, fama e dinheiro – o levariam a roubar,
matar e trapacear.
A
narrativa de Platão permite concluir que mesmo uma pessoa virtuosa e justa, se
tivesse em mãos o anel de Giges, agiria contrariamente à virtude e à justiça.
Não
todos, é claro.
E,
Aristóteles alerta que “o homem guiado pela ética é o melhor dos animais.
Quando sem ela, é o pior”.
Por
isso, a vida em sociedade exige um conjunto de normas gerais de conduta justa,
iguais para todos (inclusive para o rei) e aplicáveis a um número incerto de
casos futuros.
A
propensão humana à virtude é frágil; por isso, a paz social não dispensa as
regras de conduta e a punição para quem as viola.
Na
esfera pública, o meio de impedir que os políticos tenham seu anel de Giges é
pela visibilidade de seus atos.
Não é
por outra razão que a Constituição obriga à publicidade de todos os atos dos
governantes.
A
publicação e a divulgação de tudo quanto é feito com o dinheiro público (e
também dos atos que não envolvam dinheiro) são necessárias para o conhecimento
da população sobre as ações dos homens do poder.
Certamente, os corruptos imaginam ter achado o anel de Giges e acreditam que não serão pegos nem atingidos pela punição.
Certamente, os corruptos imaginam ter achado o anel de Giges e acreditam que não serão pegos nem atingidos pela punição.
Somente
um louco cometeria atos de corrupção se tivesse a certeza de que seria
descoberto, processado e punido. Seguramente, os malfeitores fazem cálculos e
agem apostando na probabilidade de não serem pegos. De vez em quando, eles
erram no cálculo e a justiça funciona.
Se os homens fossem anjos, o Código Penal e as prisões não seriam necessários. Mas os homens não são anjos e, quanto mais poder eles têm, maior a probabilidade de manifestarem seu lado diabólico e imoral.
José Pio Martins
Economista e reitor da Universidade Positivo.
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