Ivan Beteto C.’.M.’.
A.'.R.'.L.'.S.'. Stella Matutina" nº 658
Or.'. de São Bernardo do Campo - SP
enviado por email em 11/02/2016
enviado por email em 11/02/2016
Steiner,
para traduzir a fenomenologia das forças observadas no organismo, viu-se diante
dos termos disponíveis na fisiologia e anatomia de sua época e assim, embora
certamente não desejasse restringir-se a eles, teve de optar por denominá-los como:
sistema neurossensorial, sistema rítmico e o sistema metabólico, que possuem correspondência às porções do corpo
humano. Trata-se da Organização Tríplice,
fato que não deveria passar despercebido ao olhar do maçom que reflita sobre o
Ternário.
O sistema neurossensorial tem como centro
a porção superior do corpo, precisamente na região do crânio. Conforme a fisiologia
apresenta é a sede das atividades nervosas, do polo encefálico, onde residem o
pensamento e a consciência.
O estudo da fenomenologia do crânio expõe algumas
características deste sistema que são a dureza, a falta de flexibilidade dos
ossos, ausência de movimento, a calma (o cérebro é imóvel, sendo que inúmeras
patologias decorrem de contusões ou de sua “agitação”). Outra característica
desta porção é o frio e a presença dos processos de “morte”, que na fisiologia
são representadas pela ausência de regeneração das células nervosas. De fato,
todo o processo de tomada de consciência depende de processos catabólicos
(destrutivos), ou seja, de destruição do sistema neurossensorial, onde no
desconstruir produz-se consciência.
Similar
ao artista que dá consciência ao bloco de pedra amorfo por meio dos entalhes –
retirada de material para apresentação da forma – o sistema neurossensorial
atua na “morte” para revelar o sentido.
Assim, o polo neurossensorial trata,
sobretudo, da imaterialidade, das imagens advindas do mundo que foram captadas
pelos órgãos dos sentidos, que são representações do mundo e não a
materialidade do mundo propriamente dita.
O cérebro capta luz, aroma, gosto,
sensações, som e ritmo, mas não as coisas em si. Por meio desse mecanismo, se constituem
os pensamentos (combinações de imagens). Podemos dizer, que é neste sistema que
encontramos a máxima liberdade de nossa alma em relação a matéria.
De
modo oposto, o sistema metabólico e dos membros possui seu centro na região
inferior do corpo, em órgãos abaixo do diafragma, onde seu caráter flexível e
de atividade está presente de modo explícito na funcionalidade das pernas, que
nos permite deslocarmos para onde desejamos.
Deste aspecto emerge a noção de
que este sistema é a sede do querer,
da Vontade. Todo este movimento é relacionado ao calor e
de fato é indicativo da presença de grande concentração de energia, que pode
dar origem aos processos inflamatórios.
Este é o polo gerador das substâncias
do corpo, da digestão, da produção caótica de células, que se opõe radicalmente
a calma e a morbidez neurossensorial.
O sistema metabólico nos alude a uma
grande fábrica que transforma a matéria prima, produz seus resíduos e gera
novas substancias. Considerando a “vocação” deste sistema para a produção,
somente poderia situar-se neste sistema o sistema reprodutivo, a função de gerar
a vida.
Completando
a organização tríplice, o terceiro sistema emerge naturalmente como um meio de estabelecer
o equilíbrio destes dois polos.
Assumindo o papel de entrar neste jogo forças, o
sistema rítmico produz a “dança” do equilíbrio entre o calor e o frio, entre a
vida e a morte, entre o pensar e o querer, entre a Vontade e a Inteligência.
Como parte da poesia deste encontro amoroso entre pensar e querer, o sentir se faz presente e toma como lar a
respiração, a circulação e o coração.
O coração, em verdade, é uma verdadeira
barreira sensível capaz de perceber e limitar as sobreposições do sistema
superior em relação ao inferior e vice-versa.
Quando a “música” soa fora de
ritmo este é um sinal claro de que desarmonias ou desequilíbrios entre os
sistemas estão ocorrendo.
Porém, os ritmos não são resultados de outros
sistemas, mas estão ali como mediadores que ajudam na relação pensar e querer.
Isto é perceptível tanto no ritmo cardíaco e nas patologias advindas do seu
“descompasso”, com frequência associadas a emoções específicas.
É importante
se entender que a organização tríplice não se trata de um privilégio do
organismo humano, ela pode ser aplicada a todas as coisas existentes, onde não
seria forçoso dizer que a presença das três forças seria uma condição essencial
para todas as coisas existirem. Ainda que no homem vejamos o reflexo, o
esplendor de todo o polo neurossensorial através da presença do pensamento,
podemos dizer que as flores também engendraram todo o esplendor metabólico em
sua grande variedade de aromas e cores com a máxima finalidade reprodutiva.
As
rochas ígneas, o enxofre, traduz todo o calor metabólico em termos de minério, mas
as rochas sedimentares por meio dos quartzos parecem expor toda a capacidade de
ordem que o sistema neurossensorial alcança por meio do pensar humano.
Enquanto
aos animais, uns mostram-se mais neurossensoriais como o polvo – praticamente ele
é somente cabeça – e outros mais metabólicos como o boi – com mais de um
estomago.
Mas ainda que existam tantas variações entre os seres e minerais no
mundo, todos parecem guardar em si as três forças mais ou menos explícitas.
Neste sentido, a homeopatia antroposófica buscará na natureza os elementos
necessários para o resgate do equilíbrio.
O mais
importante a ser refletido na organização tríplice é que toda essa diversidade
que está presente dentro do homem, e está presente no mundo, parece em sua
totalidade expor a presença de um organismo ainda maior que contém essas três
forças, cujo homem é apenas vaga imagem e semelhança sujeito a ação de suas
forças.
Quando o homem entende o lugar que ocupa no mundo e as forças que estão
em ação sobre ele e tudo que o cerca, ele torna-se instrumentalizado para
realizar as melhores escolhas no sentido de um razoável equilíbrio, buscando o
que lhe falta e evitando o que lhe excede.
Referências bibliográficas
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