quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

É preciso viver mesmo sem entender a vida


 

 
 
publicado em “Recortes”,  por Ana Lúcia Gosling
enviado por nosso Ir.'. Nelson Jerônimo de Oliveira - Facebook
 
O texto acima não é bem um artigo, mas traz uma reflexão que cabe aqui, não?

Escrevo contos, crônicas e arrisco poesias no meu blog pessoal:


Por aqui vou deixando impressões.

 
 
O despertar para a vida ocorre diariamente. Mesmo quando, em vida, algo em nós morre.

(by Ingo Joseph in Pixels)

 

A vida é inexplicável. Não a morte.

A morte tem uma razão, um laudo, um acontecimento real para que ocorra, ainda que inesperadamente. Uma explicação trágica ou simples, mas um fato concreto: velhice, acidente, doença, assassinato.

A vida não. Não há qualquer coerência na vida. Não há programação que se garanta cumprir. Na maior parte do tempo, vivemos sem explicações e sem garantias. Não há sequer uma motivação principal. Vive-se de amor, mas não só disso. Só o sucesso profissional não é suficiente. Mesmo os prazeres intelectuais ou físicos se cansam, esgotam-se.

A vida é surpreendente para o bem e para o mal. Uma montanha-russa sentimental. Mesmo na dor, conseguimos reinventar alegria. Quando andamos sem esperança, podemos rir de uma piada idiota até a barriga doer. Nos dias de desespero, encontrar um novo rumo.

Tristes, ter a mente distraída pelo casal de namorados no ônibus ou pela conversa com a atendente no mercado. Cheios de problemas, ter a tristeza desarmada pelo carinho do cachorro de estimação ou pela risada do filho pequeno. Ou, no auge da felicidade, enfrentar uma tragédia, perder um grande amor ou conhecer o desencanto.

A vida é o contínuo caminhar pelo desconhecido. Nós nos movemos apenas por instinto, pelo simples impulso de seguir em frente. Nem sempre arriscando novas experiências. Às vezes, apenas repetindo as rotinas que nos trazem segurança.
 
Se pretendemos, por exemplo, que a alma sare, não fazemos qualquer movimento brusco. Mas, ainda assim, podemos surpreender-nos com interesses aguçados simplesmente por ler um livro, por ligar a TV, por navegar na internet ou por uma conversa com um estranho na rua ou na praia.

Seguimos na sequência conformados, às vezes até anestesiados, até que, sem percebermos, estamos sonhando relações, construindo casas, vivendo amores, fazendo escolhas por puro prazer de novo. (by Tim Savage in Pexels)

A vida é fluxo. A morte é interrupção. Se houver um novo fluxo a partir de então, a explicação está além da vida, não na vida em si. Só na morte, conhece-se o que há de real nas teorias religiosas ou filosóficas que nutrimos em vida. Só no fim, há a explicação ou o silêncio. Para quem fica, existem “certezas” que poderão ruir. Suposições, crença ou angústia. Mas não a verdade.

Certo é que o despertar ocorre em vida diariamente. Na satisfação dos pequenos e dos grandes desejos, nos bons encontros provocados ou acidentais, nos carinhos e nas delicadezas trocadas. Quando tropeçamos na beleza que há na arte ou no mero cotidiano. Quando perdemos tempo imaginando coisas que talvez não ocorram, mas que nos fazem sorrir enquanto as sonhamos. Quando conquistamos nosso objetivo, nosso amor, nossa independência. Mas também quando nos permitimos pensar simplesmente em como é bom o sal sobre a pele ao sair do mar, em como é bom o banho morno no fim do dia, em como é boa, a preguiça na cama ao deitarmos.

Por isso precisamos estar atentos aos outros, às coisas, aos fatos, aos dias. Agora! Mesmo quando, em vida, sentimos algo morrer em nós. Mesmo quando a dor for constante. Porque a vida nos cerca e nos provoca constantemente. E, em algum momento, um dos seus elementos nos desadormecerá. E, estar no fluxo nos garantirá sempre, outro amanhecer, mais à frente.

                                                                                                                                                       


                   Obvious: http://obviousmag.org/puro_achismo/2016/porque-viver-mesmo-sem-entender-a-vida.html#ixzz3z6aO1Ymy
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